Africana Studia nº 26 - Lutas de Mulheres no Cinema de África e do Médio Oriente

Lutas de Mulheres no Cinema de África e do Médio Oriente

 

 

Índice:

  • Editorial (p. 5)
  • Lutas de Mulheres no Cinema de África e do Médio Oriente
    • Beti Ellerson - African Women of the Screen: an Agenda for Research (p. 9)
    • Fernando Branco Correia - Cinema Árabe – tópicos e sugestões (p. 17)
    • Mourad Aty - Either Triumph or Martyrdom: representation of women in the Algerian
    • Revolutionary-War Movies, the case of The Battle of Algiers (p. 29)
    • Paula Fernández Franco - Shashat and cinema under occupation. Palestinian women in struggle (p. 35)
    • Lamia Belkaied Guiga - Selma Baccar: réalisatrice, productrice et femme politique. L’engagement permanente pour les libertés (p. 45)
    • Alina Freitas Praxedes Representações de gênero e raça no âmbito doméstico: uma análise crítica do filme La noire de… (p. 53)
  • Entrevista
    • Alia Arasoughly – Woman to woman: cinema through Alias's eyes - Entrevista conduzida por Paula Fernández Franco (p. 65)
  • África em Debate – Uma herança identitária: o trabalho forçado
    • Jairzinho Lopes Pereira - A Igreja e a Escravatura em Cabo Verde (séculos XVI-XVII) (p. 75)
  • Notas de leituraNotas de leitura
    • René Pélissier - Ces fins d’empires inoubliables (p. 95)
    • Vanicléia Silva Santos e Gerhard Seibert - Documentário Fitxicêlu. Crenças, Estigma e Ostracismo, São Deus Lima & Gerson Soares (p. 113)
    • Jorge Ribeiro - Arlindo Barbeitos. Angola – Portugal / Representações de si e de outrem ou o jogo equívoco das identidades(p. 117)
  • Resumos (p. 119)
  • Legendas das ilustrações (p. 127)

  

Editorial 

En 1908, un Européen vint à Bandiagara (Mali) pour y projeter un film. (…) Les marabouts se concertèrent pour faire échouer l’entreprise. À l’époque, ce n’était pas facile pour des Nègres de gâter une affaire de “Blancs” en pays colonisé. (…) La projection eut lieu, mais personne, sinon Alfa Maki, (…) n’accepta de regarder les images diaboliques. Tout le monde profita de l’obscurité pour fermer les yeux.

(Amadou Hampâté Bâ, in Trafic 1994)

 

Este número de Africana Studia apresenta artigos que se enquadram no Colóquio Internacional “As Lutas das Mulheres no cinema de África e Médio Oriente”, organizado pelo Centro de Estudos Africanos da Universidade do Porto, que decorreu entre 12 e 13 de maio de 2016 na FLUP.

Do título do colóquio, destacam-se dois pontos essenciais que abrem inúmeros caminhos para a investigação. Por um lado, duas regiões ligadas ao ocidente por histórias de colonização devastadoras e cuja produção cinematográfica, relativamente recente e entregue às imensas possibilidades de realização, produção e distribuição oferecidas pelas mais avançadas tecnologias, permanece pouco conhecida; por outro lado, a presença, representação e condição feminina numa arte com um tremendo impacto nas sociedades. Apesar de o cinema de África e do Médio Oriente ter vindo a ser abordado e divulgado através de uma série de encontros e festivais pelo mundo, não deixa de ser uma área pouco trilhada no campo da investigação. Quanto à questão que envolve a mulher na sétima arte, há registos da sua importância nos primórdios do cinema mas, assim que se verificaram as imensas possibilidades financeiras da aventura da indústria cinematográfica por terras californianas, as mulheres passaram para um plano secundário. A verdade é que, independentemente do sítio onde a mulher habita, a sua presença no mundo da realização cinematográfica é secundária.

O tema envolve necessariamente abordagens pluridisciplinares e não esgota a sua pluralidade intrínseca. Dada a diversidade dos povos, dos territórios, das línguas, das heranças e das múltiplas práticas culturais, são cinemas que não podemos fixar ou encerrar dentro dos limites impostos por fronteiras. Assim, só se pode falar de cinema de África e Médio Oriente no plural. São cinemas que efetuaram uma reapropriação de um olhar e de uma linguagem cinematográfica originalmente regida por uma gramática da imagem ocidental e maioritariamente masculina. São cinemas que, ao formularem um “verbo” próprio, se situam, em termos ideológicos, associados ao conceito de terceiro cinema enunciado no manifesto de Octavio Getino e Fernando Solanas (“Hacia un tercer cine”) originalmente publicado em Cuba na revista Tricontinental em 1969.

Falar de cinemas de África e Médio Oriente através das múltiplas vozes femininas é conviver com linguagens de resistência e resiliência. Resta-nos ter a coragem e a determinação de iniciar investigações que possam romper com os paradigmas. Como tal, não podemos deixar de citar as pistas que Edward Said nos deixou:

“Perhaps the most important test of all would be (…) to ask how one can study other cultures and peoples from a libertarian, or a non-repressive and non-manipulative perspective. But then one would have to rethink the whole problem of knowledge and power.”

 Procurar repensar o conhecimento e o poder obriga-nos a um trabalho que nos leva necessariamente a repensar a nossa linguagem e a “Outra”.

Ana de Palma

  

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Africana Studia é uma revista publicada com arbitragem científica.

Africana Studia é uma revista da rede Africa-Europe Group for Interdidisciplinary Studies (AEGIS).

Capa: Composição de Jorge Delmar

 

 Para leitura integral: https://ojs.letras.up.pt/index.php/AfricanaStudia/issue/view/517

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