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O Impacto da Grande Recessão na Colónia Portuguesa de Cabo Verde (1929-1935)

 

Índice:
Introdução
Cabo Verde: Aspectos Gerais
Cabo Verde: A Economia
Cabo Verde: As Crises Cíclicas
A Crise: A Quinta-feira Negra
A Crise: Franklin D. Roosevelt e o New Deal
A Crise: As Consequências da Depressão nos Países Industrializados
Impactos: A Grande Depressão em Portugal (1929/1935)
Impactos: Repercussões na Colónia de Cabo Verde
Impactos: Um mundo que acabou
Conclusão
Bibliografia

 


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Documento e Referências


 

Resumo / Abstract

Este trabalho tem como objectivo principal analisar os efeitos da Grande Depressão na Colónia de Cabo Verde, a mais abandonadas de todas as colónias portuguesas de África, dentro de um quadro catastrófico internacional, resultado da crise bolsista de Nova Iorque.
Nos anos 20, a população cabo-verdiana estava composta por camponeses habituados a enfrentar longos períodos de seca e consequentemente fome generalizada, com uma elevada taxa de mortandade. Desde o século XIX, o Porto Grande do Mindelo, na ilha de São Vicente, cresceu em importância internacional. O seu movimento e tráfego comercial não só forneceram trabalho a um grande número de pessoas que procuravam emprego, como foi um alívio aos sucessivos anos de seca, ao mesmo tempo se tornou na maior fonte de receitas para a colónia. Em 1927, 70 % das receitas eram provenientes das comunicações efectuadas pelos cabos submarinos transatlânticos, dos direitos alfandegários, do carvão para reabastecimento de navios transatlânticos. Uma quantidade equivalente provinha de remessas de emigrantes e do comércio relacionado com as tarefas portuárias.
O investigador demonstra como a Depressão está estreitamente relacionada com as grandes transformações tecnológicas da época, que deixaram profundas chagas na economia cabo-verdiana. As transformações nas comunicações, nos combustíveis; com a substituição do carvão pelo óleo diesel vieram revolucionar as comunicações internacionais, ultrapassando as possibilidades de oferta do Porto Grande do Mindelo, que mergulha numa profunda crise e vê reduzir o fluxo de navios, que antes aqui aportavam. Foram assim, dramaticamente, postos em causa os postos de trabalho em São Vicente e as receitas da colónia. Os efeitos da Grande Depressão internacionalmente afectaram também as remessas dos emigrantes, que por falta de emprego, deixam de poder enviar as habituais divisas estrangeiras. Esses países a braços com problemas profundos, devido à crise limitaram o movimento dos seus navios e adoptaram medidas político económicas proteccionistas, que afectaram grandemente as já precárias exportações cabo-verdianas.
Ao contrário dos Estados Unidos da América e das outras potências da época, Portugal não adoptou as medidas económicas Keynesianas, recusando investir no Porto Grande do Mindelo, ou tomar medidas que fizessem face à crise na agricultura. Em vez disso, o regime militar autoritário português fez crescer os efeitos nefastos da Depressão sobre a colónia de Cabo Verde. A política salazarista do “apertar o cinto” foi assegurada por uma repressão económica e militar, as quais duraram até muito depois da Segunda Grande Guerra, com profundos efeitos nas estruturas sociais da nação.


After a review of the policies adopted to deal with the Great Depression in the United States and Europe, this article reports on the effects of the Great Depression in Cape Verde, the most neglected of Portugal’s colonies off the coast of West Africa. In the 1920’s, the archipelago’s population was largely composed of a subsistence based and land hungry peasantry in an environment characterized by recurring droughts of catastrophic proportions. Since the mid 19th century Porto Grande, the deep water port in Mindelo, on the island of Sao Vicente had grown in international importance. In Cape Verde Porto Grande not only provided employment for ever larger populations seeking work and relief from drought, but had come to provide the major part of the colony’s income. In 1927, duties from communications based on the transatlantic cable, and customs duties on the imported coal to refuel transatlantic shipping provided 70% of Cape Verde’s income. The balance was provided by remittances from emigrants and from port related commerce.
The writer shows that the Depression coincided with major technological changes that cut to the heart of Cape Verde’s economy. Cable based communications switched to wireless communications; and oil came to replace coal as the fuel for international shipping, resulting in a dramatic reductions in Porto Grande’s shipping, in the country’s income, and in the employment available in Porto Grande. Income from remittances declined, reflecting the effects of the Depression overseas, and the protectionist policies adopted by other countries further reduced shipping and reduced Cape Verde’s already limited exports.
In contrast to the Keynsian economics adopted by the United States and other European powers at the time, Portugal refused to invest in the port or to address the agricultural crisis. Instead, Portugal’s authoritarian military dictatorship exacerbated the effects of the Depression. Its policies of economic belt-tightening (with its refusal to invest in the port) were buttressed by a political and military repression which lasted until and beyond the Second World War, with profound effect on the nation’s social structure.

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