Educação e Género em Moçambique

 

Índice:
Agradecimentos
Glossário
Preâmbulo
01. Introdução
1.1 Trajectória da Investigação
02. Justificação e Descrição das Opções Metodológicas
03. Escolarização Desigualdade
3.1 O papel social da escola
3.2 O paradigma da escola que une socializando e divide seleccionando
04. Género Sexo
4.1 O papel social da mulher
4.2 Desigualdade de género
4.3 Papéis sexuais e identidade de género
4.4 Socialização de género
05. Educação Género em Moçambique
5.1 Panorama histórico
5.2 Ensino excludente: problemas e desafios
06. Panorama Linguístico de Moçambique
6.1 Moçambique, sociedade multicultural e multilinguística
6.2 Políticas linguísticas
6.2.1 Política linguística no período colonial
6.2.2 Política linguística no período pós-independência
6.2.3 Política Linguística Actual em Moçambique
6.2.3.1 Programa bilingue para o Ensino Básico
6.2.3.2 Objectivos e estratégias
6.2.3.3 Dificuldades e Desafios
6.2.3.4 Pensando o futuro
07. Estudos de Caso – Historial das Experiências
7.1 Estudo de caso I – EP2 de Mahubo km 14
7.1.1 Localização e caracterização física da povoação de Mahubo
7.1.2 Caracterização da população e dos agregados familiares visitados
7.1.3 Aspectos culturais particularmente ligados às raparigas
7.1.4 Caracterização linguística da população
7.1.5 A EP2 de Mahubo km 14
7.1.6 Os alunos da escola
7.1.7 Os professores
7.1.8 Observação das aulas – turma monolingue
7.1.9 Observação de aulas – turma bilingue
7.1.10 As alunas da sétima classe
7.2 Estudo de Caso II – EP2 de Mabilibili
7.2.1 Localização e caracterização física da povoação de Mabilibili
7.2.2 Caracterização da população e dos agregados familiares visitados
7.2.3 Aspectos culturais particularmente ligados às raparigas
7.2.4 Caracterização linguística da população
7.2.5 A EP2 de Mabilibili
7.2.6 Os alunos da escola
7.2.7 Os professores
7.2.8 As alunas da sétima classe
08. Considerações finais
Anexos
Anexo I – Fotografias
Anexo II – Esquemas das salas de aula
Anexo III – Dados resultantes das entrevistas
Anexo IV – Entrevistas
Anexo V – Dados estatísticos do Ministério da Educação de Moçambique
Bibliografia


Referência bibliográfica do livro:

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SILVA, Gabriela. 2007. Educação e Género em Moçambique. 1ª ed. Porto: Centro de Estudos Africanos da Universidade do Porto. Original edition, Tese de Mestrado em Estudos Africanos.

Do Preâmbulo

Herdamos do século XX um mundo que se tornou mais pequeno dada a facilidade com que o percorremos, a forma rápida como é possível chegar das mais variadas formas aos lugares mais remotos. Mas esta nova dimensão da distância transformou ao mesmo tempo a nossa noção do mundo, transfigurando-o num espaço maior de diversidade, pois nunca como agora tivemos a percepção da sua total variedade geográfica, social, cultural e humana.
Mas esta hiper densidade do diverso num mundo cada vez mais pequeno é difícil de digerir e assimilar e representa uma fonte de tensão para as sociedades actuais. Há uma certa tendência, actualmente, para se desenvolverem várias teorias do determinismo cultural, num mundo que funciona a várias velocidades e tempos, em muito fundamentadas por Max Weber (1996) e a sua explicação da ética protestante como um factor determinante para o crescimento e êxito da economia capitalista, deitando por terra aquilo que de mais importante nasceu da revolução francesa, a crença na liberdade, igualdade e fraternidade entre todos os indivíduos, que impede, assim, a legitimação de qualquer tipo de opressão de uns sobre os outros. Mas estas teorias ignoram o facto de que as culturas mudam e que raramente são homogéneas, lançando as sementes para a prática da dominação económica e cultural.
A democracia é o único sistema político que, na perspectiva do mundo ocidental, defende todas as liberdades, mas hastear esta bandeira como panaceia para os problemas do mundo moderno, sobretudo no que respeita à modernização das sociedades menos desenvolvidas, representa muitas vezes uma faca de dois gumes, pois as maiorias nem sempre defendem e protegem as reivindicações de respeito e reconhecimento da diversidade cultural. Segundo a perspectiva de Del Priore (...), “o termo “multiculturalismo” designa tanto um facto (as sociedades são compostas de grupos culturalmente distintos) quanto uma política (colocada em funcionamento em níveis diferentes), visando a coexistência pacífica entre grupos étnica e culturalmente diferentes. (...) A política multiculturalista visa, com efeito, resistir à homogeneidade cultural, sobretudo quando esta homogeneidade afirma-se como única e legítima, reduzindo outras culturas a particularismos e dependências”. Nesta linha de pensamento, num mundo plural e multicultural, a necessidade de políticas específicas é cada vez mais imperiosa.
Uma questão que se enquadra neste cenário e que enfrenta importantes desafios é a da desigualdade de género. Após séculos de mudanças de valores e de décadas de luta dos movimentos feministas no Ocidente, as sociedades modernas alcançaram níveis de igualdade de género sem precedentes na história (apesar de estar ainda longe o marco da igualdade) e sem qualquer comparação possível nas sociedades menos desenvolvidas.
Mas o desenvolvimento e as políticas que lhe estão associadas não se podem integrar em sociedades que se encontram a uma enorme distância histórica, social, económica e cultural dos modelos e conceitos que ultrapassam os seus percursos e que lhes são alheios, como se estas tivessem seguido todos os nossos passos e partir de um conceito de cultura hierarquizada, onde a cultura ocidental deve impor os seus valores pois, “Numa perspectiva de desenvolvimento humano, todos os sistemas legais – sejam unitários ou plurais – têm de se conformar com os padrões internacionais de direitos humanos, incluindo a igualdade entre os sexos” (...).
Não podemos, pois, esquecer que mesmo os Direitos Humanos são valores da sociedade ocidental e que se os quisermos seguir como linha orientadora neste labirinto de culturas e espaços, temos de estar conscientes disso e que para que os discursos políticos e as boas intenções representem acções concretas que contribuam efectivamente para o bem-estar individual e colectivo é preciso conhecer o outro, perceber o seu contexto, ensinar e aprender, numa dinâmica de troca de experiências longe de estratégias de dominação e de noções de superioridade.
Não podemos promover a igualdade de género, ainda que acreditemos profundamente nesse valor, numa sociedade que se desconhece, dotados de pouca ou nenhuma informação sobre o universo de expectativas dos indivíduos, os seus papéis sociais e os seus valores. O que significa ser homem ou mulher é um dos conceitos mais variáveis do mundo, e pretender mudar comportamentos e mentalidades a esse nível implica um conhecimento profundo do outro e o recurso a estratégias específicas adaptadas a cada realidade.

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