Índice:
- Luís Aires-Barros; Helena Grego; Cristina Matias - A Sociedade de Geografia de Lisboa e as edições próprias de Cartografia Ultramarina Oitocentista (p. 9/16)
- Paula Cristina Santos - As Missões Geográficas (1883-1940). Construção de um Documento Cartográfico (p. 17/40)
- Nuno Silva Costa - Cartografia de Propaganda e Unidade Geográfica do Império (C. 1920-1945) (p. 41/70)
- Jordi Tomàs - The traditional authorities cross the colonial border: Opposing views on the role of religious leaders Jola Huluf and Ajamaat of Lower Casamance (1886-1909) (p. 73/98)
- Eduardo Costa Dias - Regulado do Gabú (1900-1930): A difícil compatibilização entre legitimidades tradicionais e a reorganização do espaço colonial (p. 99/126)
- Maria Emília Madeira Santos - A Cartografia dos Poderes. Da Matriz Africana à Organização Colonial do Espaço (p. 129/144)
- João Pedro Marques - A ocupação do Ambriz (1855): Geografia e diplomacia de uma derrota inglesa (p. 145/158)
- Jean-Luc Vellut - Angola-Congo. L’invention de la frontière du Lunda (1889-1893) (p. 159/184)
- Ana Cristina Roque; Lívia Ferrão - Reconhecimentos hidrográficos na cartografia portuguesa da costa centro e sul de Moçambique no século XIX (p. 187/204)
- Cristina Sampaio - O Zumbo: Um problema de “Direitos Históricos” na delimitação da fronteira (p. 205/222)
- Peter Collier - Boundary demarcation between British and Portuguese colonial territories in East Africa (p. 223/238)
- Felizardo Bouene; Maciel Santos - O Modus Vivendi entre Moçambique e o Transvaal (1901-1909): Um caso de «imperialismo ferroviário» (p. 239/268)
- Eduardo Medeiros - Dos territórios linhageiros aos regulados Coloniais no Vale do Lúrio e na circunscrição de Montepuez durante e após a Companhia do Niassa. Notas exploratórias para uma análise antropológica da cartografia (p. 269/298)
- Olga Iglésias - Reorganização do espaço na colónia de Moçambique. Estudo do fenómeno urbano (p. 299/334)
- Rafael Sanzio Araújo dos Anjos - Cartografia e Quilombos: Territórios étnicos africanos no Brasil. (p. 337/356)
Editorial
A história da cartografia portuguesa tem cultivado com particular atenção a época dos descobrimentos e da expansão. No entanto, pouco se sabe sobre os mapas elaborados pelos cartógrafos portugueses nos séculos XIX e XX, quando são notáveis a quantidade e a qualidade das cartas que representam as mais variadas áreas do globo com particular incidência nas colónias portuguesas de África.
O colóquio Cartografar África em Tempo Colonial (c.1876-c.1940) resultou do projecto Cartografia, Política e Territórios Coloniais. Comissão de Cartografia (1883-1936): um registo patrimonial para a compreensão histórica dos problemas actuais, que se propunha proceder à reconstituição virtual da produção e funcionamento da Comissão de Cartografia. Pretendia-se, assim, construir, através do vasto acervo disperso por várias unidades do IICT e outras instituições afins, um instrumento operatório com várias aplicações, desde a cartografia, à política e à diplomacia, até ao estudo das realidades históricas, antropológicas, geográficas, e ambientais das regiões tropicais que foram objecto de missões científicas enviadas aos territórios coloniais.
O período cronológico abrangido por este colóquio é um pouco mais extenso do que a duração da Comissão de Cartografia. Primeiro porque os antecedentes esclarecem as origens e interacções da Comissão e, depois, porque, após a sua extinção, muitos trabalhos foram concluídos pelas instituições que se lhe seguiram.
A terra africana não tinha fronteiras fixas e permanentes. Era habitada por povos cujos chefes podiam guerrear-se pelas riquezas, pelo poder ou pelos caminhos, não tanto pelos territórios. Quando a política internacional demarcou as fronteiras coloniais, atendendo a interesses europeus, faltava ainda conquistar o interior - esses povos que os exércitos coloniais viam mudar de lugar, fugindo-lhes por entre os dedos. De nada serviriam as fronteiras, enquanto as populações não fossem conhecidas e submetidas.
À cartografia dos exploradores científicos - Hermenegildo Capelo, Roberto Ivens, Serpa Pinto, Henrique de Carvalho, Augusto Cardoso - e da própria Comissão de Cartografia, acrescentava-se agora a das Campanhas Militares, dos Serviços Geológicos, Obras Públicas, Serviços Meteorológicos e de qualificados cientistas autónomos.
A conquista, seguida da ordenação administrativa colonial do espaço, decapita as hierarquias políticas africanas, instala o forte militar junto à embala do Soba, constrói estradas e caminhos de ferro. A divisão administrativa primeiro decalca, depois rejeita, por vezes mantêm a realidade africana.
A cartografia manuscrita tudo regista para não apagar as autoridades tradicionais submersas, os potenciais inimigos derrotados ou submetidos por assinatura de tratados e que a qualquer momento podem reorganizar-se para resistir.
Esta cartografia reservada guardou a imagem de uma África pré-colonial que foi sendo submergida à medida que se instalava o sistema colonial; por seu lado, a cartografia impressa recobria o espaço na totalidade. A cartografia divulgada fez ainda coabitar elementos dessa imagem com a reorganização colonial. Depois, as marcas do passado africano foram progressivamente encobertas pela administração militar e civil.
A cartografia colonial, tendo constituído um processo relativamente curto, funciona como um interface cuja abrangência cronológica se estende, por um lado, em direcção ao passado pré-colonial e, por outro, atinge a actualidade, não só pela permanência das fronteiras coloniais mas também pelo reaparecimento da toponímia tradicional, como exemplos mais evidentes.
O estudo deste processo tem a vantagem de nos conduzir a períodos cronológicos muito mais vastos e de contribuir para uma mais ampla compreensão de outros fenómenos: quer dos que ali se repercutem a partir do passado quer dos que se reproduzem no presente.
Maria Emília Madeira Santos
IICT-Lisboa
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