O Racismo ontem e hoje. Estados Poderes e Identidades na África Subsariana

Índice:

  • António Custódio Gonçalves - Prefácio
  • Adriano Moreira - Conferência Inaugural: A persistência do Racismo
  • Adelino Torres - Racismo, islamismo político e modernidade
  • José Capela - Os colonos em escritos moçambicanos
  • Joan Manuel Cabezas Lopez - Racismo y pensamiento moderno: el ejemplo de la invención de los camitas y de los subsaharianas
  • Manuel Ennes Ferreira - Integração económica em África: poder e identidade
  • Albert Roca - Raza, lengua y cultura. Actualizaciones malgaches
  • Janos Riesz - Images d'Afrique - images d'africains. Comment parler de l'altérité raciale dans les études littéraires?
  • Ana Lúcia Lopes de Sá - Luanda literária a várias cores. O tema do racismo em Luandino Vieira e Uanhenga Xitu
  • Arlindo Barbeitos - A raça ou a ilusão de uma identidade definitiva
  • José Carlos Venâncio - A problemática social dos mestiços em África, a sua comparação com a situação asiática
  • Manuel Laranjeira Rodrigues Areia - Racismo, neo-racismo e anacronismo científico

Referência bibliográfica do livro:

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GONÇALVES (Org.), António Custódio . 2004. O Racismo ontem e hoje. Estados Poderes e Identidades na África Subsariana. Papers of VII Colóquio Internacional "Estados Poderes e Identidades na África Subsariana. O Racismo ontem e hoje." 2005, at FLUP - Porto.

Do Prefácio

Este VII Colóquio analisou novas problemáticas e interpretações sobre o Racismo na África Subsariana, nas suas múltiplas perspectivas e nos seus novos desafios. Para minimizar os efeitos culturalmente totalizantes da globalização nos domínios das culturas e sociedades africanas torna-se necessário analisar comparativamente os sistemas normativos dos valores africanos, numa interacção construcionista e complementar da tradição e da modernidade e das dinâmicas do multiculturalismo em África.
O conhecimento da nossa cultura passa sempre pelo conhecimento de outras culturas. A experiência da alteridade elabora-se através do encontro de culturas diferentes da nossa e da consequente modificação da visão da nossa cultura e da descoberta, necessariamente lenta, do facto natural e do fenómeno cultural. Assim, formas de vida e de comportamento em sociedade, consideradas espontaneamente como naturais e inatas, são de facto resultado de escolhas culturais. O maior fenómeno natural em todas as sociedades é justamente a sua aptidão à variação cultural, a sua capacidade de diferenciação, de elaboração de costumes, de instituições, de modos de conhecimento, de práticas e ritos simbólicos profundamente diferentes.
A descoberta da alteridade permite-nos rejeitar a ideia da pretensa superioridade cultural, da identificação do sujeito a si próprio e das culturas à nossa cultura; permite-nos igualmente romper com algumas abordagens que procedem sempre duma "naturalização" do social, como se os nossos comportamentos estivessem inscritos em nós desde o nascimento e não adquiridos no contacto da cultura em que se nasce, numa atitude reducionista da diferença, aliás, por vezes, de modo igualitário e com as melhores intenções. Tentar pensar cientificamente e aceitar a diversidade de culturas, contra tendências dominantes do expansionismo ocidental nas suas formas económicas e políticas, constitui tarefa permanente das Ciências Sociais e Humanas. Novas perspectivas interdisciplinares implicam, assim, uma autêntica revolução epistemológica, que começa justamente por uma revolução do «olhar», não afastado, como poderia sugerir o título da obra de Claude Lévi-Strauss (Le regard éloigné , Paris, Plon, 1983), mas próximo, na medida em que permite a ruptura com a ideia do duplo, do idêntico e da exclusão do outro longínquo e irredutível a nós. A interpelação crítica dos outros acompanha sempre a fundamentação científica da dúvida e da crítica de nós próprios. Além disso, a cultura nas suas manifestações é sobre determinada, não se apresentando de maneira neutra ou unívoca. Por isso, neste Colóquio insistiu-se na análise da vertente transcultural, cujos conceitos possam ser utilizados na compreensão das diferentes culturas e sociedades.
Estamos directamente confrontados hoje com um movimento de homogeneização e de globalização sem precedentes na história, ou seja com o desenvolvimento de formas de cultura industrial e urbana e de formas de pensamento do racionalismo e do irracionalismo sociais. A questão que se nos coloca constantemente é a de saber como uma sociedade pode chegar ao estádio de desenvolvimento industrial, pós-industrial ou tecnológico sem choques dramáticos e sem riscos de despersonalização e de desestruturação e de racismos. Um dos objectivos deste Colóquio consistiu em reflectir sobre a compreensão dos actores sociais quanto ao desenvolvimento sustentado associado à construção das mutações culturais impostas pelo desenvolvimento rápido de todas as sociedades contemporâneas, pelo processo acelerado de urbanização, pelos movimentos de migrações internas e pelas mutações das relações sociais.
O racismo é uma doença social da modernidade, como refere Alain Touraine, não aceita facilmente a diferença e transforma-a em desigualdade. Três princípios fundamentam o racismo: "naturalização" dum grupo social, representação como inferior; domínio duma herança cultural; apelo a medidas de protecção de descriminação ou segregação.
Nas comunicações deste Colóquio cruzou-se a análise privilegiada de dois racismos, um que "naturaliza" o estrangeiro, o colonizado como inferior, com a consciência de ser por ele ameaçado; o outro, contemporâneo, que critica a pretensa superioridade da cultura ocidental; um racismo da diferença, a rejeição das outras culturas em nome da salvaguarda da pureza e especificidade de cada cultura. Estes dois racismos estão associados a dois princípios de exclusão: a desigualdade biológica e a diferença cultural.

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