Africana Studia nº 6

 

Índice:

  • Augusto Nascimento - Os São-tomenses e as mutações sociais na sua história recente (p. 7-44)
  • Carlos Lopes - Construção de identidades nos rios da Guiné do Cabo Verde (p. 45-64)
  • Francisco Proença Garcia - O Islão na África subsariana. Guiné-Bissau e Moçambique, uma análise comparativa (p. 65-96)
  • Alexander Keese - "Proteger os pretos". Havia uma mentalidade reformista na administração portuguesa na África Tropical (1926-1961)? (p. 97-125)
  • Fidel Reis - Políticas de classificação/classificações políticas: o exemplo das propriedades rácicas/características somáticas no BI (p. 127-151)
  • Ilídio do Amaral - Presença da mulher africana ao sul do Sara na cultura e na ciência: questões do género (p. 153-171)
  • Armando Malheiro da Silva - General Norton de Matos (1867-1955). Aspectos maiores de um perfil histórico-biográfico - o militar, o colonialista e o democrata (p. 173-200)
  • Madalena Pires Fonseca - Os corredores de desenvolvimento em Moçambique (p. 201-230)
  • Elísio Macamo - Da displinarização de Moçambique: ajustamento estrutural e as estratégias neo-liberais de risco (p. 231-255)
  • Rosa de Souza Oliveira - Olhares epifânicos - a epifânia nos contos "Amor" de Clarice Lispector e "À sexta-feira" de Luandino Vieira (p. 257-269)
  • José Capela - "Álcool e escravos. O comércio luso-brasileiro do álcool em Mpinda, Luanda, Benguela durante o tráfico atlântico de escravos (c.1480-1830) e o seu impacto nas sociedades da África central ocidental", de José Curto (p. 273-276)
  • José Capela - "Esclavage et Confréries noires au Portugal durant l'Ancien Régime (1441-1830)", tese de doutoramento de Didier Lahon (p. 277-285)
  • Elikia M'Bokolo - Présentation du livre du Prof. António Custódio Gonçalves "A tradição e a modernidade na (re)construção de Angola" (p. 287-289)

 

Editorial

O presente volume da Revista Internacional de Estudos Africanos, Africana Studia, é predominantemente dominado por artigos referentes à construção de configurações identitárias em espaços e tempos diferentes da África Subsariana.

Contrariando as perspectivas ditas essencialistas e nacionalistas, os trabalhos aqui apresentados assentam na construção de identidades numa perspectiva histórica de longa duração, como processos e como estratégias sociais, culturais e simbólicas. O primeiro artigo, da autoria de Augusto do Nascimento, analisa a procura da identidade SãoTomense e sua relação com as mutações sociais. O autor analisa, numa perspectiva construcionista e integradora, a pluralidade de referências culturais dos indivíduos e dos grupos sociais e das diversas formas de representações e manifestações sociais e simbólicas dos São-Tomenses. Trata-se de um texto apresentado no Congresso "Portuguese/African Encounters", realizado na Universidade de Brown, em 2002.

O artigo de Carlos Lopes propõe-se discutir os conceitos de identidades sociais e culturais. Analisando a construção de identidades nos "Rios de Guiné do Cabo Verde", na expressão quinhentista de Alvares de Almada, e na designação contemporânea que compreende os territórios da Guiné-Bissau, Gambia e Casamance, o autor retoma vários contributos do seu livro "Kaabunké. Espaço, território e poder na Guiné-Bissau, Gambia e Casamance pré-coloniais".

O artigo de Francisco Proença Garcia, "O Islão na África Subsariana. Guiné-Bissau e Moçambique: uma análise comparativa", elabora uma análise global da expansão islâmica na África Subsariana e discute as relações entre o poder colonial português e o Islão no período da guerra colonial e interpreta o papel das confrarias islâmicas na preservação de identidades locais específicas, em oposição à cultura do colonizador.

Alexander Keese, no seu trabalho "Proteger os pretos: havia uma mentalidade reformista na administração portuguesa na África Tropical (1926-1961)?" discorre sobre pretensas medidas de reforma social e política da administração colonial, prosseguidas como estratégia psicológica durante as guerras de independência.

No artigo "Políticas de classificação/classificações políticas: práticas políticas e lutas de classificação", Fidel Reis, conjugando a fundamentação teórica e a investigação empírica, analisa e critica a inclusão do conceito de "raça" como um dos elementos de identificação na lei do Bilhete de Identidade, aprovada pela Assembleia Nacional d Angola.

Ilídio do Amaral, numa análise documental, e de testemunho recolhidos entre personalidades femininas de vários países da África Subsariana, releva as fortes desigualdades de género e o pape subalterno das mulheres. Trata-se de uma conceptualização importante sobre questões de género, para a compreensão da dinâmica da participação das mulheres africanas na vida pública e cultural.

O artigo seguinte, da autoria de Armando Malheiro da Silva, analisa o perfil da obra e do pensamento de Norton de Matos, republicano e democrata, como Governador-Geral e Alto-Comissário em Angola. Norton de Matos é uma figura incontornável na história contemporânea e na história colonial. Releva-se aqui a ambiguidade da sua acção em Angola, numa tentativa de integração de diversos elementos, por vezes contraditórios: a unidade nacional transoceânica, a autonomia colonial e a construção da angolanidade.

O artigo de Madalena Fonseca sobre os corredores de transporte e desenvolvimento em Moçambique, analisa a inserção de Moçambique na economia mundial no período entre a independência e as primeiras eleições multipartidárias. Elisio Macamo analisa as lógicas do ajustamento estrutural e as estratégias neo-liberais de risco, constituídas como projecto totalisante do centro em relação à domesticação das margens, bem como o papel da re-invenção da identidade de Moçambique como sujeito e objecto das ajudas externas.

Por fim, Rosa de Souza Oliveira propõe-nos o estudo de duas personagens femininas, através da análise comparada de duas obras literárias: uma brasileira, o conto "Amor", de Clarice Lispector e a outra, angolana, o conto "Sexta-feira", de Luandino Vieira.

Este número termina com a habitual secção de Notas e Recensões.

António Custódio Gonçalves



Ficha Técnica:

Director: António Custódio Gonçalves

Conselho Científico/Advisory Board: Alberto Amaral (Univ. do Porto - CIPES), Brazão Mazula (Reitor da U.E.M. - Maputo) Christine Messiant (E.H.E.S.S.), Elikia M'Bokolo (E.H.E.S.S.- Paris), Franz-Wilhelm Heimer (CEA-ISCTE - Lisboa), Joana Pereira Leite (CESA-ISEG - Lisboa), Jill Reaney Dias (F.C.S.H. - U.N.L.), João Gomes Cravinho (Univ. Coimbra), Joaquim Alberto da Cruz e Silva (I.I.C.T. - Lisboa), José Novais Barbosa (Reitor da Univ. do Porto), Isabel de Castro Henriques (F.L.U.L.), João Teta (Reitor da U.A.N. Luanda), Patrick Chabal (King's College - London), Michel Cahen (Univ. Bordéus III), Peter Meyns (Univ. Duisburg), Peter Vale (Univ. Western Cape), Saul Dubow (SOAS - Londres), Teresa Cruz e Silva (U.E.M. - Maputo).

Conselho de Redacção/Editorial Board: António Custódio Gonçalves, Carlos José Gomes Pimenta, Elvira Mea, Ivo Carneiro de Sousa, João Francisco Marques, José Capela, José Carlos Venâncio, Maciel Morais Santos, José Manuel Pereira Azevedo, Maria Cristina Pacheco, Mário Vilela.

Secretariado: Raquel Maria Machado da Cunha

Propriedade: Centro de Estudos Africanos da Universidade do Porto

Edição: Faculdade de Letras da Universidade do Porto

Impressão e acabamento: Tipografia Nunes, Lda - Maia

ISSN: 0874-2375

Depósito legal: 138153/99

Revista anual: n° 6 - 2003

Tiragem: 500 exemplares

©CEAUP e Faculdade de Letras da Universidade do Porto

Proibida a reprodução total do conteúdo desta publicação sem autorização prévia por escrito do CEAUP e da Faculdade de Letras da Universidade do Porto.

 

Para leitura integral: https://ojs.letras.up.pt/index.php/AfricanaStudia/issue/view/526

 

Apoio

Unidade I&D integrada no projeto com referência UIDB/00495/2020 (DOI 10.54499/UIDB/00495/2020) e UIDP/00495/2020.

 

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