A obra que se segue é uma referência fundamental para a compreensão da temática dos ritos de iniciação das populações macuas e lómuès do Norte de Moçambique. Para além disso, devo realçar o facto de o Professor Eduardo da Conceição Medeiros ter colectado, analisado, sistematizado e explicado informação que corria o risco de se perder na voragem oportunista dos novos tempos, que primaram por branquear a história, a cultura e a memória de tradições moçambicanas ancestrais.

“Por outro lado, é evidente que em todas as formas em que o produtor directo permanece o ‘possuidor’ dos meios de produção e de trabalho necessários para produzir os seus meios de subsistência, a relação de propriedade deve fatalmente manifestar-se ao mesmo tempo como uma relação de amo e servidor.”1

Este é um livro de história postal. Talvez não seja dificil haver uma aceitação quase espontânea desta etiquetagem: estuda uma sucessão de acontecimentos relacionados com o funcionamento da correspondência numa região durante um período de tempo passado. Mas, por isso mesmo, será interessante reflectirmos um pouco mais sobre o assunto, não nos deixarmos embalar pelas primeiras "evidências".

Graças ao Centro de Estudos Africanos da Universidade do Porto, a historiografia relativa à Escravatura, ao Tráfico de Escravos e ao Trabalho Forçado no contexto da colonização ganhou nova dinâmica. Investigadores da mais diversa proveniência têm emprestado ao fenómeno histórico uma atenção sistemática expressa em colóquios e publicações de que esta mesma é exemplo. Integrada nesse projecto global que prossegue.

Em 1971 tive oportunidade de publicar o que terá constituído a primeira expressão escrita de uma certa visão do homem moçambicano por ele próprio, em tempo nevrálgico e especialmente nevrálgico em quanto respeitava à sua afirmação identitária.

A importância da obra de René Pélissier para a historiografia da colonizaçãoportuguesa é dupla. Os seus trabalhos pioneiros sobre a evolução político -militar das colónias portuguesas dos séculos XIX e XX são desde
há várias décadas suficientes para o transformar numa referência obrigatória deste campo do conhecimento. Como se isso não bastasse, este autor iniciou paralelamente a mais completa revisão sobre a bibliografia recente destes territórios; no princípio sob a forma de recensões periodicamente publicadas em diversos periódicos, mais tarde reunindo -as em compilações mais ou menos extensivas.

Em finais dos anos 50 o colonialismo português - cego, surdo e mudo - apodrecia. Apodrecia. Os povos africanos reagiam ao trabalho forçado. os eternos escravos já decidiam fazer greves. E a resposta de Lisboa foia a pior possível: avançar com a guerra declarando que não havia guerra nenhuma.  Foram estas lutas de caráter laboral que, definitivamente, em Pindjiki, Mueda e Caçanje puseram nos carris o comboio da luta armada pelas independências.

Para além de raros especialistas, alguns políticos e certos investidores, as guerras coloniais (conquistas e abandonos incluídos) não interessam senão às famílias cujos membros masculinos nelas participaram, de livre vontade ou obrigados. Geralmente, não são guerras patrióticas. As de Portugal não foram excepção a esta realidade. Para que fossem inscritas num contexto histórico nacional, seria necessário ensiná-las nas escolas.

Pág. 1 de 2

Apoio

Unidade I&D integrada no projeto com referência UIDB/00495/2020 (DOI 10.54499/UIDB/00495/2020) e UIDP/00495/2020.

 

Contactos

Centro de Estudos Africanos da Universidade do Porto
Via panorâmica, s/n
4150-564 Porto
Portugal

+351 22 607 71 41
ceaup@letras.up.pt